“Sobrevivi ao medo e à violência”: relato de seis anos de abuso expõe drama e alerta mulheres em Pouso Alegre

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Uma mulher que viveu mais de seis anos em um relacionamento marcado por violência, ameaças e perdas financeiras decidiu compartilhar sua história para encorajar outras vítimas a romper o ciclo de abusos. Sob o nome fictício para proteger a identidade “Ana Guimarães”, ela narra o impacto devastador da convivência com o ex-companheiro e a luta para reconstruir sua vida.

Tudo aconteceu em São José do Rio Preto mas, quando resolveu tomar uma atitude fugiu para Pouso Alegre. Ao lavrar a ocorrência em Pouso Alegre, a polícia entrou em contato com a polícia de São José do Rio Preto que prendeu o agressor. Segundo informações captadas pela TV Uai, o trabalho das Polícias Civis foi excelente, com a comunicação entre as polícias sob as ordens do delegado de Pouso Alegre, Dr. Sérgio Amorim e sua equipe.

O agressor chegou a ser preso por tentativa de feminicídio, mas foi solto após a própria vítima contratar um advogado e pedir a redução da acusação para lesão corporal. Na época, acreditou nas promessas de arrependimento do companheiro, que enviava cartas e se dizia disposto a mudar. Pouco tempo depois de ganhar a liberdade, ele queimou as cartas e voltou a cometer novos abusos.

Segundo a advogada da vítima, Dra. Rosa Emília Dias Pereira de Carvalho, o homem ainda apresentou declarações médicas suspeitas para obter liberdade provisória. “Há fortes indícios de falsificação. Ele enganou inclusive uma psiquiatra, dizendo que o laudo era para sua mãe, quando na verdade usou o documento em um processo criminal”, explicou.

Ciclo de medo e perdas financeiras

Ana contou que o relacionamento começou na virada de 2018 para 2019, após conhecê-lo em uma festa de Ano Novo. Desde o início, segundo ela, os momentos foram marcados por medo, agressões e chantagens.

“Ele dizia: ‘ou transfere ou eu te mato’. Fui coagida a entregar dinheiro, bens e cartões de crédito. Acabei perdendo imóveis, incluindo um sítio, dois lotes e um apartamento, além de mais de R$ 1 milhão em despesas que ele fez em meu nome”, relatou.

A vítima também afirmou que passou todo o período em constante ameaça: “tive medo de morrer todos os dias. O pavor me consumia”.

A difícil libertação

Depois de seis anos e cinco meses, Ana conseguiu romper o relacionamento em junho deste ano. Agora, sob acompanhamento psicológico e psiquiátrico, ela busca recuperar a saúde mental e a estabilidade financeira.

Apesar do alívio momentâneo, ela ainda teme as ameaças feitas pelo agressor: “Ele dizia que, se fosse preso, quando saísse me mataria”.

Ana reforça o apelo para que outras mulheres não permaneçam em situações semelhantes:
“esses homens não mudam. Eles sabem explorar nossas fraquezas. Não se calem, não se anulem, não aceitem migalhas. Busquem ajuda e se libertem”.

Planos para o futuro

A sobrevivente afirma que agora busca uma nova fase de paz e reconstrução. Além do apoio de amigos e familiares, conta com acompanhamento profissional para superar os traumas.

“Hoje tenho esperança, fé em Deus e a certeza de que mereço uma vida de bênçãos e vitórias. Quero retomar meus planos e viver com dignidade”, declarou.

Projeto de Lei em debate no Senado

O caso reacende a discussão sobre o Projeto de Lei 1977/2024, de autoria da senadora Ana Paula Lobato (PDT-MA), que propõe a perda de todos os bens adquiridos durante o casamento ou união estável por agressores condenados por violência doméstica ou familiar e inclui qualquer forma de violência, até mesmo a psicológica.

A proposta prevê que os bens fiquem indisponíveis até a decisão final da Justiça e, em caso de condenação, sejam transferidos integralmente para a vítima.

O texto foi protocolado em maio de 2024 e aguarda designação de relatoria na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. Apesar de já ter passado pelo prazo de apresentação de emendas (que se encerrou em junho), a matéria ainda não foi analisada pelo relator e segue em fase inicial de tramitação no Senado.

Enquanto não avança no Congresso, casos como o de Ana reforçam a urgência de medidas mais rigorosas contra a violência de gênero no país.