Conectividade na caixa: Inatel cria solução que leva internet até 100 km de distância

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Tecnologia criada pelo Inatel leva internet de alta qualidade a áreas remotas com uma solução compacta e acessível. Conectividade chega a até 100 km de alcance

Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí (MG), desenvolveu uma tecnologia inovadora capaz de levar internet de alta velocidade para regiões onde o sinal nunca chegou. A solução, chamada “Conectividade na Caixa”, reúne em um único equipamento todos os componentes necessários para operar uma rede móvel — antena, distribuição e núcleo — em um formato compacto e fácil de instalar.

“Com uma única caixa, uma pessoa pode ter sua própria operadora. Ela oferece as mesmas funcionalidades em um único equipamento, que é mais fácil de instalar, de operar e não requer conhecimentos técnicos avançados”, explica Luciano Mendes, coordenador do Centro de Competência Embrapii Inatel em Redes 5G e 6G – xGMobile.

Alcance e segurança

A solução permite criar redes móveis privativas, nas quais apenas dispositivos autorizados podem se conectar, garantindo mais segurança e estabilidade. O alcance chega a 5 a 10 quilômetros no 5G e até 100 quilômetros no 4G, com capacidade para atender cerca de 100 usuários simultaneamente.

Essas redes podem ser aplicadas em propriedades rurais, fábricas, cidades inteligentes e comunidades isoladas, fortalecendo a inclusão digital no país. “A gente vem tentando avançar com a questão da conectividade nas áreas rurais, justamente com uma questão de inclusão digital. Esse foi o grande viés da nossa pesquisa”, destaca Mendes.

Da pesquisa à aplicação

Internet na Caixas: Tecnologia desenvolvida no Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG), permite levar internet para áreas remotas — Foto: Inatel/Divulgação

O projeto começou em 2017, teve sua primeira versão concluída em 2020 e chega à etapa final de transferência tecnológica em 2025. Startups locais já receberam a tecnologia: Trivale, responsável pela versão 5G, e Furukawa Electric LatAm, com foco no 4G. Enquanto a Trivale mira setores como óleo e gás, a Furukawa aposta na conectividade para o campo.

Entre as limitações atuais estão o uso restrito do chip dentro do raio de cobertura e algumas restrições em confirmações de SMS por aplicativos. “Pode ser que você tenha uma funcionalidade mais limitada, mas no sentido de oferta de conectividade, transferência de dados e comunicação de voz, tudo é atendido com bastante satisfação”, explica o pesquisador.

Barreiras e desafios

Apesar do avanço, a expansão da tecnologia enfrenta obstáculos regulatórios. O acesso ao espectro de frequência, autorizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) desde 2023, ainda depende de burocracias que dificultam projetos comunitários.

Caminho para o 6G

Além da conectividade 4G e 5G, pesquisadores do Inatel trabalham no desenvolvimento da tecnologia 6G no Brasil. O projeto “TV Space” busca usar faixas ociosas de canais de TV em áreas rurais para transmitir internet sem interferir nas emissoras. A proposta visa permitir que pequenos provedores e comunidades montem redes próprias com baixo custo e alta eficiência.

“Muita gente fala que o satélite é a solução, mas os equipamentos são caros. Nossa proposta é usar um ponto de conexão via satélite e distribuir o sinal por dezenas de quilômetros a um custo acessível”, explica Mendes.

O Inatel já realiza testes e discute a iniciativa com emissoras de TV, provedores de internet e a Anatel para definir normas de homologação dos equipamentos.

Impacto nacional

Com cerca de 20 milhões de brasileiros ainda sem acesso à internet, a tecnologia pode ser um divisor de águas. “O Brasil tem a chance de ter uma tecnologia que é sua, desenvolvida aqui. Ela pode reduzir a exclusão digital e atender desde comunidades indígenas até setores estratégicos como mineração, fronteira e segurança nacional”, destaca Mendes.

Com inovação nacional e custos acessíveis, a conectividade que cabe em uma caixa pode transformar a realidade digital do país.