A cantora e compositora celebra Pouso Alegre com a energia das congadas e folias
O reencontro com a terra natal, a reconciliação com a vida e o saber esperar o tempo dos ciclos de recolhimento foram a inspiração para Canção do Estio, a nova composição de Luiza Toledo, disponível gratuitamente em todas as plataformas digitais desde 5 de abril.
Alimentada pela energia das congadas, das folias, das violas, dos discos do Clube da Esquina, dos pianos do Conservatório e das antigas serestas de Pouso Alegre, Canção do Estio é a primeira composição de Luiza Toledo na qual a artista assume por completo a autoria de letra e música.
Luiza Toledo é graduada em Música pela UNIRIO desde 2014, mas iniciou sua formação artística aos 7 anos no renomado Conservatório de sua cidade natal. Minas e Rio se entrelaçam no seu compromisso com a canção brasileira, pela qual busca conectar e provocar seus ouvintes com a coragem e o humor que autorizam aprofundar os debates.
Com um estilo musical definido apenas por “canção”, suas letras carregam uma identidade mineira contemporânea. A poesia e o texto são o alicerce de uma construção que passeia entre a MPB mais tradicional, ritmos regionais, hibridismos entre o popular e o erudito influenciados pelo rock e pelo pop, servindo-se desses gêneros sem prisões estéticas, a fim de privilegiar sempre a palavra.
A voz doce, porém expressiva de Luiza, interpreta as dissonâncias e inconstâncias de suas composições, com muitas quebras de estilo entre seções, pausas para inserção de textos, densidade e contraste também presentes na estrutura musical.
Apaixonada por boas histórias, a compositora é extremamente metódica, o que a torna um caos curioso de se observar. “A primeira frase de Canção do Estio veio em sonho”, conta Luiza: “saí cedo de Pouso Alegre e retornei por duas vezes. Aqui o sol me faz carinho, e é esse voltar pro ninho, é esse colo de mãe o que desejo honrar com a Canção do Estio. A composição foi gerada nessa terra que me inspira a escrever com gosto de casa, com a brisa da Serra da Mantiqueira e do Vale do Sapucaí. É maravilhoso poder voar, mas melhor ainda é ter para onde voltar.”
Luiza, que como muitos artistas, migrou na juventude para grandes centros, voltou para o interior durante a pandemia. Em seu retorno do Rio de Janeiro para Pouso Alegre, a cantora descobriu um câncer de tireoide, sem saber exatamente quais seriam os impactos do tratamento para a sua voz e principal instrumento de trabalho. O silêncio lhe aflorou a escrita, o que a fez colocar no mundo novas composições que refletem a festa que é estar viva.
A revoada dos tsurus
A referência aos pássaros de origami presentes na identidade visual de Canção do Estio tem um significado especial para Luiza Toledo, que compôs esta música motivada pelo movimento de regeneração de sua família, após uma sucessão de perdas e lutos que culminou com diagnóstico recebido pela artista.
Seus familiares organizaram-se secretamente durante os meses de tratamento contra o câncer, para confeccionar uma imensa quantidade de pássaros de papel colorido. Em seu retorno à casa, após o período de internação, Luiza deparou-se com a sala de sua casa repleta com aproximadamente 2.500 tsurus. Os passarinhos chegaram de todos os cantos do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Belo Horizonte, Belém do Pará, Conselheiro Lafaiete, Cássia, inclusive de pessoas desconhecidas, como relata Luiza: “fiz a Canção do Estio assim que consegui voltar a cantar, seis meses após a remoção da tireoide. Eu acredito que superar a doença foi uma forma de celebrar a vida e as lutas que ainda podemos vencer. Acho que todos os “tsureiros” pegaram seus lutos, suas lutas, e resolveram fazer algo bonito e colorido para colocar no lugar. Entendo que todo esse amor não foi só sobre mim, é algo muito maior. Em tempos doentes como os estamos enfrentando, tem quem continue acreditando que vale a pena dedicar amor gratuito, fé e incentivo. Não duvidem! Tem muito amor no mundo.”
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