Vazamentos políticos? Operação do MP e Polícia Civil em Pouso Alegre vira munição em disputa local

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Imagens de bastidores da ação “ Operação Invisíveis” circularam em grupos de WhatsApp sem que informações oficiais chegassem à imprensa. Vídeos foram divulgados por assessora e vereador ligados ao deputado federal Rafael Simões, adversário político do prefeito Cel. Dimas

Na manhã desta quarta-feira, 2, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Polícia Civil deflagraram em Pouso Alegre a “Operação Invisíveis”, que investiga crimes graves relacionados à retirada forçada de pessoas em situação de rua na cidade. Essas pessoas eram deixadas, contra suas vontades, em municípios da região. De acordo com a nota oficial divulgada pelo MP às 08h08 da manhã, a ação cumpriu mandados de busca e apreensão em dez endereços ligados a agentes públicos e particulares suspeitos de práticas de “limpeza social” com uso de violência, armas de fogo e ameaças de morte. Na informação do MPMG não consta nomes dos investigados que sofreram busca e apreensão.

O caso, que por si só já é de grande repercussão, ganhou contornos ainda mais delicados com a forma como as  imagens e supostas informações da operação vieram a público: não por meio de nota à imprensa, mas por vídeos compartilhados em grupos de WhatsApp por aliados políticos do deputado federal Rafael Simões (União Brasil) — adversário do atual prefeito de Pouso Alegre, Coronel Dimas.

Vazamento seletivo?

Por volta das 12h44, a assessora parlamentar Simone Morais divulgou em um grupo de WhatsApp um vídeo gravado dentro de uma sala com promotores e servidores envolvidos na operação. A gravação, feita com nitidez e clima institucional, mostra detalhes da ação que, até aquele momento, seguia sob segredo de Justiça. No entanto, no site do MPMG apenas foto revelava a equipe utilizada na ação.

Logo em seguida, o vereador Israel Russo (União Brasil), ligado ao deputado Rafael Simões, publicou uma sequência de vídeos – também em grupo de WhatsApp – comentando a operação com tom político. Em suas falas, o parlamentar menciona dados que não constam no comunicado oficial do MP e utiliza a investigação como arma retórica contra a atual gestão municipal. As publicações ocorreram antes de qualquer detalhamento oficial à imprensa, o que não foi feito até o momento por encontrarem-se em segredo de justiça.

As conexões políticas

Tanto Simone Morais quanto Israel Russo têm vínculos públicos com o deputado federal Rafael Simões. Simone Aparecida Morais consta no Portal da Transparência da Câmara dos Deputados como Secretária Parlamentar, cargo SP19, desde 11 de março de 2025, no gabinete do deputado federal Rafael Simões.

Em junho de 2023, Israel Russo foi recebido pelo parlamentar em seu gabinete (conforme consta na publicação) que o convidou formalmente a se filiar ao União Brasil. A publicação foi feita no perfil oficial de Simões nas redes sociais, com a legenda: “Juntos, podemos transformar a política e construir um futuro melhor”. Russo elegeu-se vereador em Pouso Alegre em 2024 pelo União Brasil.

O contexto local acirra ainda mais a situação: Simões e o prefeito Cel. Dimas — ambos oriundos da mesma base política — romperam recentemente e agora ocupam campos opostos nas articulações eleitorais de Pouso Alegre.

As perguntas que ficam

A equipe do TV Uai entrou em contato com o Ministério Público de Minas Gerais solicitando posicionamento oficial sobre a circulação antecipada de imagens da operação e o uso político da investigação por agentes ligados a um grupo específico. Até o fechamento desta edição, não houve retorno.

Diante dos fatos, surgem questionamentos legítimos:

Quem autorizou a gravação e divulgação das imagens internas da operação?

Como informações sob sigilo chegaram antes a parlamentares e assessores que não integram formalmente a força-tarefa?

O Ministério Público tem controle sobre o uso político de suas ações em contextos de disputa eleitoral?

O sigilo de Justiça está sendo respeitado por todos os envolvidos?

Enquanto a “Operação Invisíveis” apura possíveis crimes de extrema gravidade contra pessoas vulneráveis, a forma como suas informações vêm sendo manipuladas exige, também, apuração e transparência.

O TV Uai seguirá acompanhando o caso e reitera seu compromisso com a informação pública, livre e ética.

Confira os vídeos de Israel Russo contando supostos detalhes da operação que não foram informados pelo MPMG

Clique aqui e confira a matéria  no site do Ministério Público, relatando o caso sob sigilo de justiça