Alta no trigo pressiona preço da farinha e deve impactar pães, massas e biscoitos
A elevação do preço do trigo, impulsionada pela alta do dólar, deve refletir diretamente no custo da farinha de trigo e, consequentemente, nos preços de pães, massas e biscoitos. Atualmente, o dólar acima dos R$ 6,00 encarece as importações do cereal, uma vez que o Brasil depende de fontes externas para cerca de 40% de seu consumo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o cenário eleva os custos do setor, sugerindo aumentos inevitáveis para o consumidor final.
De acordo com Sérgio Fernando de Macedo Moura, presidente do Sindicato dos Moinhos de Trigo de Minas Gerais, apesar da queda no preço internacional do cereal, de US$ 260 para US$ 230 a tonelada no final de 2023, a desvalorização cambial provocou um aumento de 10% a 15% no custo interno. Esse impacto, segundo Moura, ainda não foi integralmente repassado aos preços, mas é apenas uma questão de tempo.
“O custo do trigo impacta diretamente o preço da farinha em cerca de 70%. Com uma alta de até 15% no trigo, a farinha pode subir até 10%, enquanto massas e biscoitos devem ter reajustes de aproximadamente 7% a 8%”, explica Moura, ressaltando que os moinhos têm absorvido parte dos custos para minimizar o impacto.
Questões climáticas também afetam a safra
Além do cenário cambial, problemas climáticos contribuíram para uma safra menor em 2024. Estados como Minas Gerais enfrentaram seca severa, enquanto chuvas intensas no sul do Paraná e no Rio Grande do Sul também prejudicaram a produção. A estimativa inicial de 10 milhões de toneladas caiu para 8 milhões, e em Minas, a colheita reduziu de 430 mil toneladas em 2023 para 230 mil toneladas no ano passado.
“Com a ausência prevista de fenômenos climáticos como El Niño e La Niña em 2025, esperamos uma melhora na produtividade e o retorno a uma safra de 10 milhões de toneladas”, projeta Moura. Apesar disso, ele destaca que a produção nacional ainda é insuficiente para atender à demanda, especialmente no primeiro semestre, quando o país recorre mais à importação.
Panificação sente a pressão dos custos
O setor de panificação também está sob alerta. Segundo Vinícius Dantas, presidente da Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), até o momento, não houve aumento significativo no preço da farinha para o consumidor final. No entanto, o cenário pode mudar em 2025, especialmente após o período de safra, caso o dólar permaneça elevado.
“Cerca de 90% dos produtos de uma padaria dependem do trigo, que representa 30% do custo total de produção. Embora outros fatores como mão de obra, energia e impostos também pesem, o trigo é o principal insumo”, detalha Dantas, lembrando que a demanda por pães tende a crescer nos meses mais quentes.
Apesar das dificuldades, a expectativa de estabilidade cambial em níveis elevados sugere um equilíbrio gradual no mercado, mas não é suficiente para evitar impactos ao consumidor. O desafio do setor permanece em equilibrar custos e manter os produtos acessíveis.