O enigma da Arca da Aliança: fé, história e mistério milenar

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Símbolo máximo da aliança entre Deus e o povo hebreu,
a Arca da Aliança segue envolta em mistério e fascínio até os dias de hoje

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Segundo a tradição bíblica, após o povo hebreu firmar um pacto com Deus no deserto, simbolizado pela aspersão do sangue de um cordeiro, foram entregues a Moisés os Dez Mandamentos, esculpidos em duas tábuas de pedra. Para guardar essas tábuas e representar a presença divina, foi ordenada a construção da Arca da Aliança — objeto sagrado que marcaria profundamente a identidade religiosa dos israelitas.

O Livro do Êxodo, no capítulo 25, detalha minuciosamente como a Arca deveria ser construída: uma caixa de madeira de acácia, com cerca de 1,10 metro de comprimento por 66 centímetros de largura e altura, inteiramente revestida de ouro por dentro e por fora. O artefato incluía também uma tampa de ouro com dois querubins voltados um para o outro, de onde, segundo a narrativa, Deus comunicava suas leis a Moisés.

Além de armazenar as tábuas da lei, a Arca era levada nas jornadas pelo deserto e mais tarde foi colocada no Templo de Salomão, em Jerusalém, tornando-se a relíquia mais importante da fé judaica. Seu significado transcendia o material: era o sinal visível da presença e do pacto de Deus com o povo escolhido.

O poder sagrado e a aura sobrenatural da Arca

Relatos bíblicos indicam que a Arca possuía poderes sobrenaturais. Somente os sacerdotes levitas podiam se aproximar dela. Durante as batalhas travadas na tentativa de reconquistar a Terra de Canaã, era comum que os hebreus levassem a Arca para os campos de guerra, acreditando que sua presença garantiria vitórias.

No Primeiro Livro de Samuel, há o episódio em que a Arca é capturada pelos filisteus, o que teria causado desastres e pragas nas cidades inimigas. Assustados, os filisteus decidiram devolvê-la. O episódio reforçou ainda mais a sacralidade do artefato.

Já no período do rei Salomão (entre 970 e 931 a.C.), a Arca foi definitivamente colocada no templo em Jerusalém. Contudo, a história da relíquia sofre uma reviravolta com a invasão babilônica em 586 a.C. De acordo com a tradição narrada no livro dos Macabeus, o profeta Jeremias teria escondido a Arca no monte Nebo antes da destruição de Jerusalém. A partir daí, sua localização tornou-se um dos maiores mistérios da história religiosa.

Mistério que atravessa os séculos

Séculos depois, quando os judeus retornaram do exílio e reconstruíram o templo, o espaço destinado à Arca permaneceu vazio. Essa ausência foi registrada até por Pompeu, general romano que conquistou Jerusalém em 63 a.C. Ele teria se surpreendido ao descobrir um cômodo vazio no local mais sagrado do templo.

Com a destruição do templo no ano 70 d.C. e a dispersão do povo judeu, a chamada Diáspora, o paradeiro da Arca tornou-se ainda mais obscuro. Lendas medievais surgiram ao longo dos séculos. Entre elas, destaca-se a versão de que os Cavaleiros Templários teriam resgatado a Arca durante as Cruzadas, guardando-a em segredo junto com outras relíquias, como o Santo Graal.

A Arca da Aliança na cultura popular e na fé contemporânea

A aura de mistério em torno da Arca da Aliança continua alimentando o imaginário popular. O cinema, por exemplo, levou o tema às telas com o filme “Os Caçadores da Arca Perdida”, em que o personagem Indiana Jones parte em busca do artefato sagrado. Documentários, livros e teorias continuam tentando desvendar se a Arca realmente existiu — ou onde poderia estar escondida.

Uma das versões mais conhecidas é a da Igreja Ortodoxa Etíope, que afirma manter a Arca guardada em um templo na cidade de Axum. Segundo a tradição local, o objeto sagrado teria sido levado à Etiópia por Menelik, filho do rei Salomão com a rainha de Sabá, por volta de 950 a.C. Até hoje, ninguém fora do clero teve acesso ao suposto local da relíquia, o que aumenta ainda mais o mistério.

Mesmo sem provas definitivas sobre sua existência, a Arca continua sendo um dos maiores símbolos da fé judaico-cristã. Para os cristãos, ela ganha novo significado com Maria, considerada a “Arca da Nova e Eterna Aliança”, por ter trazido ao mundo Jesus Cristo.

Afinal, a Arca da Aliança foi um objeto real, uma lenda ou apenas uma metáfora espiritual? A resposta permanece guardada no tempo — talvez, para sempre.

Com informações de Padre José Inácio Medeiros, CSsR – Instituto Histórico Redentorista