Curador Rui Neuenschwander, idealizador da mostra que reúne 15 artistas e homenageia a obra do renomado escritor português em plena temporada de inverno na Serra da Mantiqueira (Foto: Gil Rocha)

Entre os dias 5 de julho e 24 de agosto, a charmosa cidade de Gonçalves, no sul de Minas Gerais, será palco da 1ª edição da MoLA – Mostra de Literatura e Arte, evento inédito que une literatura e artes visuais em um mesmo espaço. A exposição, sediada na recém-inaugurada Galeria Art Dialogues, traz como tema “Imprudentemente Poéticos” e apresenta obras de 15 artistas, dois deles de Belo Horizonte, criadas exclusivamente para o evento a partir da obra do escritor português Valter Hugo Mãe, um dos principais nomes da literatura contemporânea em língua portuguesa.
Vencedor do Prêmio Literário José Saramago em 2007 com o romance O Remorso de Baltazar Serapião — descrito por Saramago como um “tsunami literário” —, Hugo Mãe serve de inspiração para os artistas que reinterpretam 13 de seus livros por meio de pinturas, esculturas, instalações e obras em suportes diversos.
“A MoLA é uma ideia viva, feita por pessoas que colocam presença, escuta e afeto em cada gesto”, afirma o curador Rui Neuenschwander, idealizador da mostra e atualmente residente entre Gonçalves e São Paulo. Ele divide a curadoria com Anita Goes, que destaca o caráter fértil da obra de Hugo Mãe: “Sua escrita atravessa temas como identidade, pertencimento, infância, morte, amor, exílio e linguagem. Ela convida à reinvenção”.
Conexão entre literatura e artes visuais

Participam da exposição artistas como Tuscha e Rogério Blach, ambos de Belo Horizonte, e outros nomes com atuação local em Gonçalves, como Cynthia Gavião, Eliana Carvalho, Popoke (dupla formada por Eduardo Aleixo Castanheira e Natália Rocha), entre outros.
Os trabalhos apresentam abordagens variadas: textos transformados em imagens, frases convertidas em objetos, narrativas visuais construídas a partir de atmosferas literárias, além de peças que utilizam materiais como madeira, cerâmica, fibra e terra para evocar simbolicamente os universos criados por Hugo Mãe.
Entre os destaques está a obra “Honra”, de Tuscha, um óleo sobre uma antiga pele de onça presenteada ao artista em 1989 por um membro da comunidade Yanomami. A peça, inspirada em As Doenças do Brasil, preserva a dignidade do material e reflete a força poética do livro. Outra obra do artista, “O Perdão é um Pássaro que Pousa”, utiliza madeira de demolição e diversas técnicas para retratar elementos do romance Homens Imprudentemente Poéticos.

Já Rogério Blach apresenta “Chão”, obra desenvolvida após a leitura de Deus na Escuridão. Criada com a técnica de cerâmica japonesa raku, a peça remete às memórias de infância do artista e simboliza o alicerce existencial representado pela imagem do chão – elemento que liga o cenário da Ilha da Madeira à própria condição humana.
Artistas locais traduzem a obra de Hugo Mãe em obras sensíveis
A artista Eliana Carvalho, por sua vez, se inspirou em O Nosso Reino para criar “Crença”, escultura feita em madeira queimada e arame farpado, evocando o aprisionamento da condição humana. Cynthia Gavião, com a obra “Poço”, também baseada em Homens Imprudentemente Poéticos, explora a inversão entre o interno e o externo por meio de uma delicada instalação que brinca com luz e sombra.

Já a dupla Popoke assina a obra “O Vazio Pertencente”, inspirada no livro O Filho de Mil Homens. A peça remete a um barco à deriva, simbolizando os laços frágeis entre as pessoas e a busca por pertencimento.
A mostra ainda conta com artistas como Alexandra Ward (A Desumanização), Elias Mota (Cantos de Cães e Maus Lobos), Jonas Meirelles (Contra Mim), Ju Violeta, Manu Maltez, Revista Comando, Ruzembergue Carvalho, Thais Beltrame e *William Mophos, que assinam obras que dialogam profundamente com os livros de Hugo Mãe.
Incentivo à formação de leitores

Antes mesmo da inauguração oficial, a MoLA também cumpre um papel educativo. Alunos do 9º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio da rede pública de Gonçalves foram convidados a participar de um concurso de redação e desenho. A iniciativa busca estimular o contato dos jovens com a literatura de língua portuguesa e formar novos leitores de Valter Hugo Mãe.
Além de oferecer uma rica experiência estética e literária ao público, a MoLA se propõe a ser uma plataforma inclusiva, dando visibilidade a talentos locais e promovendo conexões entre diferentes formas de expressão artística.

(Foto: Tuscha)

(Foto: Gil-Rocha)

(Foto: Sebastiao Miguel)


(Foto-Gil-Rocha)