Comitiva com 40 lideranças de Minas Gerais e São Paulo cumpre agenda no país vizinho para firmar parcerias comerciais com apoio da Lei de Maquila. Projeto nascido em Itajubá já é replicado em unidades prisionais paraguaias
Até esta quarta-feira, 24 de julho, cerca de 40 empresários, políticos e representantes de entidades dos estados de Minas Gerais e São Paulo estão em Assunção, no Paraguai, cumprindo uma agenda intensa com o alto escalão do governo do país. A missão tem como objetivo fortalecer laços comerciais, ampliar investimentos bilaterais e consolidar parcerias em setores estratégicos, com apoio da chamada Lei de Maquila — mecanismo que oferece benefícios fiscais e operacionais para empresas estrangeiras.
Entre os destaques da comitiva, está o case de sucesso da empresa Triunfae, que levou ao Paraguai um modelo pioneiro implantado no Brasil: uma unidade fabril instalada em um presídio de Itajubá, no sul de Minas. O projeto, voltado à ressocialização e capacitação profissional, despertou o interesse do governo paraguaio, que já replicou o modelo em duas unidades prisionais do país.
“Esse tipo de parceria fortalece tanto a economia do Paraguai quanto a nossa, no Brasil. Com custos operacionais mais acessíveis, é possível ampliar a produção aqui e investir mais nas unidades do nosso país, criando um ciclo virtuoso”, explica Alexandre Mendonça, sócio da Triunfae e especialista em Direito Internacional. Segundo ele, 40 empresas brasileiras já estão em processo de abertura no Paraguai, com previsão de operação entre 2026 e 2027. Pelo menos sete delas são mineiras.
Agricultura, infraestrutura e cidadania em pauta
No segundo dia da missão, a comitiva foi recebida no Ministério da Agricultura e Pecuária do Paraguai, onde estiveram com os vice-ministros Marcelo González (Pecuária) e Daniel Ortiz (Agricultura). O foco da reunião foi o interesse mútuo na industrialização do café, já que o Paraguai ainda não possui produção suficiente para exportação.
“Já estamos em negociação com empresas argentinas para processar o café aqui e exportar para o Mercosul. Agora, queremos incluir o Brasil nessa cadeia produtiva”, disse González. A proposta é que parte do café brasileiro seja processada e finalizada no Paraguai, agregando valor e fortalecendo o intercâmbio econômico.
Outro tema de destaque foi o Corredor Bioceânico, rota em construção que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico, passando por Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. A infraestrutura deve estar concluída entre o final de 2026 e o início de 2027 e promete impulsionar o comércio com a Ásia e facilitar a logística de exportações sul-americanas.
A agenda também incluiu reuniões sobre documentação para investidores e facilidades para obtenção de cidadania paraguaia, além de encontros com a Secretaria Nacional de Turismo, o Ministério da Indústria e Comércio e o Presidente da Câmara dos Deputados, Raul Latorre, que reforçou o compromisso do governo paraguaio em não aumentar impostos e acelerar processos burocráticos.
Minas Gerais no centro das atenções
Na comitiva brasileira, estão também representantes da União dos Vereadores de Minas Gerais (UV Minas), que reúne 407 membros em todo o estado. Para o presidente da entidade, João Paulo Felizardo, a missão representa um passo estratégico para fortalecer a economia mineira: “Nosso objetivo é encontrar caminhos concretos para ampliar os negócios internacionais das empresas de Minas, valorizando cada região e suas potencialidades.”
A força econômica do Paraguai vem se consolidando com base em incentivos como a Lei de Maquila, que permite importar insumos sem impostos, produzir no país e exportar pagando apenas 1% sobre o valor agregado. Atualmente, mais de 50% das 247 empresas cadastradas nessa modalidade são brasileiras, e 65% das exportações vão para o Brasil, com destaque para autopeças, vestuário, alimentos e plásticos.
Segundo dados do Conselho Nacional da Indústria Maquiladora de Exportação (CNIME), as maquiladoras paraguaias exportaram US$ 575 milhões entre janeiro e junho deste ano, um crescimento de US$ 62 milhões em relação ao mesmo período de 2023.
Expectativas futuras
As negociações devem continuar nos próximos meses. A próxima visita de empresários mineiros ao Paraguai já está marcada para setembro, quando novas rodadas de reuniões devem avançar propostas discutidas nesta semana.
Com incentivos fiscais, custo operacional reduzido e ambiente favorável ao investimento, o Paraguai se consolida como parceiro estratégico de Minas Gerais — e a empresa instalada no presídio de Itajubá prova que inovação e impacto social também podem andar juntos no cenário internacional.